quarta-feira, 20 de junho de 2012

Estimativas


Em Julho de 2011, quando fui à exposição do Escher no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de São Paulo, além dos clássicos do mesmo, vi alguns dos rascunhos do artista. Os rascunhos eram em sua maioria limpos. Porém refletiam inúmeras tentativas e erros do artista até chegar no resultado desejado. Achei aquilo um tanto estranho. Não sei, mas acho que quando vejo a obra de uma pessoa, de uma área de atuação desconhecida, penso só em sua genialidade e no resultado final. Nunca paro para refletir no que a pessoa fez para chegar àquele patamar. Acho simplesmente brilhante. Porém, ao me deparar não só com a obra, mas também com a história e linha do tempo do artista, muita coisa em minha percepção mudou.

      Imitação Frustrada de um rascunho que vi na exposição

Escher, desde o início de sua carreira investiu muito tempo no estudo dos temas Infinito e Ladrilhamento. Gastou alguns meses estudando ladrilhos mouros. Amadureceu durante anos as suas técnicas e estudos antes de chegar ao produto final. Tudo exposto de maneira bem clara, através da linha de evolução das suas obras bem como de seus rascunhos. Verdadeiras joias! Quem já desenhou, sabe que aqueles rascunhos mostrados devem ser alguns de muitos outros a respeito de uma mesma obra. Ainda mais quando se percebe que, do rascunho final para a obra propriamente dita, ainda existem algumas diferenças. Vê-se o uso de papel quadriculado e de tinta branca nos rascunhos.
Ver toda a trajetória do artista e conhecer um pouco do seu processo criativo me fez refletir sobre as estimativas que fazemos atualmente. Quanto tempo demoramos para fazer as coisas? Dependendo da atividade, demanda cada vez menos tempo. Como por exemplo, todas as atividades vinculadas a automatização do computador, desde pesquisas à cálculos. Essa rapidez de troca de informações e de automatização permitiu o surgimento alguns fenômenos: mobilizações de pessoas em tempo recorde, formação de grandes fortunas em muito pouco tempo e a superexposição do indivíduo. Toda essa rapidez assustadora não nos faz distorcer as nossas estimativas a respeito de nós mesmos?
  • Em quanto tempo projetamos nossas vitórias na carreira?
  • Em quanto tempo estimamos que teremos o domínio de algum conhecimento?
  • Em quanto tempo terminaremos as nossas atividades do trabalho diário?
Apesar do avanço da tecnologia, não creio que a nossa velocidade de aprendizado ficou mais rápida. Conseguimos sim resolver problemas de forma mais rápida, pela facilidade de informação disponível que existe. Pelo compartilhamento de cada vez mais ferramentas que nos fazem enxergar à frente. Porém não aprendemos mais rápido. Chegamos a novas conclusões assumindo como verdade o trabalho de outrem. Não compreender o tamanho do passo dado e toda a informação deixada para trás é uma das grandes razões da distorção de nossas estimativas.
Após refletir sobre o assunto, não deixei de achar Escher genial. Apenas passei a entender um pouco melhor sobre o processo aprendizado, amadurecimento e aperfeiçoamento que faltava para enxergar a real grandeza de sua obra.

É isso.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Raskólnikov e o Mensalão


Para quem não acompanhou as notícias, alguns veículos da imprensa, como a revista veja, época e alguns jornais denunciaram que o nosso ex-presidente está tentando, através de tráfico de influência, obstruir a justiça e manipular votos no julgamento do mensalão pelo STF. Seguem algumas gratuitas, disponíveis na internet.







Para mim foi muito difícil ler as notícias sobre as conversas do ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes do STF (Supremo Tribunal Federal) sobre o julgamento do mensalão e não associar com Raskólnikov, personagem principal do livro Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski. Raskólnikov acreditava que as pessoas estavam divididas entre "ordinárias" e "extraordinárias": as ordinárias deviam viver na obediência e não tinham o direito de transgredir as leis, ao passo de que as extraordinárias (como Napoleão Bonaparte) tinham o direito, não declarado, de cometer crimes e de violar leis, desde que suas intenções, se fossem úteis à humanidade como um todo, o exigirem. No caso do livro, o personagem russo usa essa teoria megalomaníaca para justificar o assassinato de uma velhinha. No caso do Brasil, pode-se dizer que Lula se vale da mesma teoria de Raskólnikov para impedir que o caso conhecido como “Mensalão” seja julgado e que qualquer um dos réus seja condenado. Reescrever a história e tentar criar uma em que o Mensalão nunca existiu. História em que o povo brasileiro não passa de um bando de ordinários e tolos por acreditar que os réus do Mensalão eram apenas fruto da nossa imaginação perversa. De que a lei é apenas um objeto incômodo na estratégia do partido (Já ouvi um certo senhor austríaco, de bigodinho, dizer algo muito semelhante nos palanques da Alemanha por volta de 1940).
É muito triste dizer isso, mas se o STF sucumbir à pressão política e não julgar o caso “Mensalão” antes das eleições de 2012, estão atestando que Lula e que todos os réus do caso são seres extraodinários.

É isso!

quinta-feira, 22 de março de 2012

Consumo Consciente... de Cadeados de Viagem

Atualmente se fala muito sobre consumo consciente. O consumo consciente apela para a reflexão sobre o nosso consumo excessivo para economizar recursos naturais. Legal. A consciência, no entanto não deve para por aí! Já repararam nos cadeados para malas que são vendidos no aeroporto de Guarulhos, Congonhas ou outros aeroportos? Dentre os diversos modelos que estão à mostra, existem alguns com um espaço para uma espécie de chave mestra. Nas embalagens destes está escrito TSA Compliant ou TSA Approaved padlocks. Bem, esses cadeados, atualmente para viagens aos EUA, permitem que uma agência governamental estado-unidense chamada TSA (Transportation Security Administration) , caso queira revistar a sua mala sem a sua presença, possa-o fazer por meio do uso de† uma chave mestra. Assim eles não destroem a sua mala, revistam ela, e teoricamente colocam um carta lá dentro dizendo que a revistaram. Os vendedores oferecem o produto alegando como uma grande vantagem não ter a sua mala detonada. Enchem a boca para falar que sua mala, caso não use o bendito cadeadinho, corre o risco de ser violada. Estragada. Já quem compra o cadeado se acha muito safo. Acha que de acordo com as normas de alguma instituição segundo a qual não terá minha mala detonada. Na teoria parece bacana, mas já pararam para pensar na liberdade que este produto fornece ao governo norte-americano para com quem entra no seu país? Quem usa esse cadeadinho dá carta branca para que uma agência governamental estrangeira possa plantar qualquer evidência de crime em sua bagagem. Teoria da conspiração? Se é, não é só minha! Em um jogo de cartas chamado "Illuminati, Bavarian Fire Drill", cujo objetivo é dominar um número determinado de grupos da sociedade e tomar controle do mundo, por conta disso, existe uma carta referente à TSA. Ela encontra-se logo abaixo.





O que acham que o desenho da carta sugere? Ou seja, não é apenas uma teoria da conspiração. Já é uma idéia conhecida. Já pensou se essa moda pega por aqui para garantir a nossa "segurança"?
Aliás, esse joguinho não é uma lenda urbana não (Muitos vídeos apocalípticos da internet falam dele, em uma versão mais antiga). Ele existe. Em minha viagem aos EUA eu fiz questão de comprá-lo e ver com os meus próprios olhos . Bem, mas isso é assunto para outro post.

Fechando, vale a meditação sobre os bens que consumimos, pois eles representar algo com o que você não se identifica ou concorda. Acredito ser melhor usar um cadeado regular e correr o risco de ter a minha mala violada para pelo menos ter o direito de alegar não ter responsabilidade sobre a bagagem. Perguntem ao Julian Assange se ele usaria um cadeado desses para viajar aos EUA.


É isso.

domingo, 11 de março de 2012

Em Nome de Quem?


Percebi outro dia que dificilmente falo bem de alguma coisa aqui. Sempre é algum tipo de alerta com pesquisas envolvidas, teorias ou assuntos filosóficos, como foi o último. Neste, eu gostaria de falar sobre algo que me deixou feliz. Segue o link abaixo:


Esta notícia relata a insatisfação de um partido com seus líderes, pois os mesmos estariam “...negociando com o governo em favor de seus próprios interesses.” . Maravilha! Finalmente alguém da base aliada se manifestou contra o que anda acontecendo. Mas o que anda acontecendo? Esses partidários do PMDB tem mais consciência dos rumos da política brasileira, olhando o todo, do que gente como eu, que não trabalha com isso. É difícil acompanhar a “Big Picture” com tantos escândalos, denúncias e crises econômicas. Veja o que o excerto do manifesto do PMDB relata abaixo (mais pode ser encontrado em http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/pmdb-rebelde-acusa-governo-de-privilegiar-pt-em-eleica/n1597662778067.html):

“…
O PMDB é o maior partido do Brasil, partido com o maior de governadores e senadores. Tem a segunda maior bancada federal e conta com o maior número de deputados estaduais e prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
É um partido construído na luta pela democracia, pela modernização do Estado brasileiro e tem como base essencial o municipalismo. A grande maioria dos seus quadros vem da mobilização municipal, com um histórico de grandes projetos realizados nos municípios e no Estados em que governa.
Esse PMDB - que hoje tem o vice-presidente da República - encontra dificuldades crescentes para o seu fortalecimento político e nas alianças que têm hoje com o Partido dos Trabalhadores, particularmente com o governo federal. E em todo o processo de decisão das políticas do governo federal, onde não passam pela discussão, o debate, com os partidos da base e com o próprio PMDB.
As dificuldades vão além. Hoje o partido não consegue promover avanços. Nós estamos vivendo numa encruzilhada, onde o Partido dos Trabalhadores se prepara com ampla estrutura governamental para tirar do PMDB o protagonismo municipalista e assumir seu lugar como o maior partido de base municipal no País…”

Caramba! Uma denúncia e tanto! Confirmando a estratégia de poder que alguns membros do PT já tinham anunciado para o Brasil há alguns anos. Mais do que isso! Nos leva a perguntar em nome de quem todas essas pessoas estão tomando as decisões em nosso país. Em nome de uma estratégia de poder? Em nome de benefício próprio? Em nome do que é certo?

Fica aqui registrada a minha admiração por estes políticos do PMDB, partido que sempre achei vendido. Principalmente porque nunca pensei que após a fidelidade partidária ser aprovada fosse ver mobilizações de parlamentares deste nível.

Vendo esta notícia imagino como Abraão se sentiu diante da destruição iminente de Sodoma. Vale conferir! Gênesis 18: 23 – 33

É isso!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A Miséria do Ser Humano

Para quem costuma ler os meus posts ocasionais deve achar este aqui meio estranho e até filosófico demais. Porém, estava para escrever sobre esse assunto faz um bom tempo. Qual é a miséria do ser humano? É o estado de pobreza extrema, pela qual inúmeras pessoas passam? Segundo o dicionário sim. Porém entendo o termo miserável como algo mais abrangente e que contempla também a definição dita.
O ser humano é miserável e se sente miserável quando reconhece as suas próprias limitações e incapacidade de lidar com elas e não quer ou sente vergonha em aceitá-las. Nos sentimos miseráveis, por exemplo, diante de um assalto. Somos obrigados a nos sujeitar às exigências de um bandido em troca de não perdermos a vida. Não adianta o nosso nível de instrução ou mesmo a nossa capacidade física. Estaremos nas mãos de meliantes que podem decidir mudar o seu destino por critérios torpes ou simplesmente sem nenhum critério. Impotentes.
Nos sentimos miseráveis quando nos deparamos com um ente querido, gravemente enfermo e que nada podemos fazer para curá-lo. Da mesma forma quando somos rejeitados por alguém que é realmente importante para nós. Não há nada que possamos fazer para que a pessoa querida aceite os sentimentos. Incapazes. Obrigados a aceitar algo.
Mais miseráveis nos sentimos quando delegamos o nosso pouco poder a alguém, seja pessoa, entidade ou espírito, e este alguém nos decepciona. Fato que nos traz além da miséria o sentimento de traição.
Quando tomamos consciência da nossa incapacidade de sair de uma situação ou da nossa impotência diante de acontecimentos, nos sentimos miseráveis. Miseráveis por depender de algo ou alguém. Em sua miséria, o ser humano cai no desespero, quando não possui ninguém para recorrer. Nessa horas, muitos procuram a Deus, pois a Ele é atribuído todo o poder.
Por vezes, penso que a miséria é o que define o próprio ser humano, pelo mesmo estar sujeito às leis da natureza e, para os que acreditam, espirituais. É do desejo de não se sentir assim que exercemos nossas atividades diárias. É do desejo de não se sentir assim que a ciência evoluiu. Seja em busca de poder, libertação ou em busca de cura. Por aí vai. É deste sentimento que tanta poesia, música e ditados falam em ”aceitar as coisas como elas são“ ou ”ver as coisas de forma mais simples” para aplacar seus efeitos.  


Era para eu ter postado isso no primeiro dia deste ano. Entretanto, como o ano começa depois do carnaval, que 2012 seja um ano pelo qual não precisemos nos sentir miseráveis! Que tomemos decisões corretas, saibamos a quem buscar e sejamos abençoados!

É isso!

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O fim de assistir futebol no estádio

Não. Não estou escrevendo sobre como os times estão jogando, jogadores se portando, técnicas ou táticas de futebol. Estou falando de uma atitude que ou põe em risco a nossa liberdade como pessoa ou põe em risco a continuidade de assistir futebol no estádio: O cadastro de todos os espectadores de jogos em estádios. Sim, estou falando de só venderem ingressos caso torcedor forneça o RG, CPF e endereço para um cadastro da Federação Paulista de Futebol.
Como fiquei sabendo disso? Quando fui prestigiar um jogo da série A2 do campeonato paulista. Existiam diversas filas, umas para cadastro de torcedores, outras para vendas de ingressos. Nas filas de cadastro eram exigidos RG, CPF e endereço do torcedor. A venda não era permitida para quem não fizesse o cadastro. Eu tentei comprar sem cadastro e não me venderam nenhum ingresso, sem maiores explicações. Bem, incomodado com isso a gente vai atrás. O vídeo do link abaixo mostra a divulgação do cadastro de torcedores:


Bem, quem tiver a curiosidade de ver o vídeo, vai ver que a explicação sobre o cadastro se apoia em uma lei estadual. E que lei é essa? Ninguém explica nem mostra. Pois é, trata-se da lei estadual 14590/11, para o Estado de São Paulo. Segue ela no link abaixo:


Resumindo a lei, o ponto de discussão está nos 2 artigos abaixo:

Artigo 2º - Os estabelecimentos que realizam a venda de ingressos para as partidas oficiais de futebol deverão identificar os respectivos compradores.

Artigo 3º - Os responsáveis pela realização do evento manterão à disposição das autoridades, pelo prazo mínimo de 12 (doze) meses contados a partir da competição, banco de dados com a identificação dos compradores e frequentadores das partidas de futebol.

Pois é, a lei não é clara como deve ser feito o armazenamento das informações, nem o que deve ser exigido, como pode ser visto no Artigo 3º.
Fica claro porém, no Artigo 2º, que o torcedor deve ser identificado. Ou seja, documentos com foto, como o RG, são mais que o suficiente. Não é necessário fornecer nem CPF, nem endereço para ninguém! Bem, não contente, fui no site da Federação Paulista de Futebol e não existia nada em nenhuma das páginas, que mencionasse isso. Li o estatuto do torcedor, regulamento completo e nada! O mais próximo que cheguei foi da lista negra de torcedores. Nenhuma norma de cadastro de torcedores! Tudo o que te exigirem para comprar ingresso na porta do estádio, exceto um documento com foto, é invenção! O que me leva a crer que o clube que fui prestigiar estava cometendo abuso. Não era obrigado a fazer cadastro nenhum, pois a lei não diz que é necessário fazer cadastro.

Por que estou sendo chato
Vamos lá, apresentar documento é uma coisa. Fazer cadastro de informações pessoais em uma instituição é outra totalmente diferente. Você pode me dizer “Quem não deve não teme!”. Sim, porém isso não significa que devo ceder informações pessoais a uma instituição qualquer, afinal, estou indo lá para me divertir, não para prestar contas à Polícia ou à Receita Federal. Você não passaria o seu CPF e endereço para o lanterninha do cinema só porque ele deve confirmar a legitimidade de sua meia entrada, passaria? Não sei se você já teve a experiência e de ir em algum lugar e dar o seu CPF para um atendente fazer cadastro. Um desconhecido qualquer puxa informações sobre a sua vida toda em um simples clique. Informações que muitas das vezes você nem autorizou divulgação. Funcionários dessas instituições vendem suas informações pessoais a outrem. Como você acha que chega tanta mala direta em sua casa todo o dia? Como você acha que existe tanta fraude em cartão de crédito? Enfim, quando você vir como é “organizado” o cadastro de torcedores no meio da rua, por meio de boletas, e pensar em quantas mãos ele passa até ser cadastrado em um sistema, você não terá coragem de se cadastrar. Eu não irei mais a jogo algum se não puder entrar apresentando apenas o meu RG.

Quando o Apóstolo João em Apocalipse 13: 16˜18 falou que exigiriam uma marca para tudo o que se fosse comprar ou vender, tanto para rico, quanto para pobre, e quem não tivesse não poderia, nunca imaginei que começaria com o futebol. De uma maneira bem perversa, faz sentido, afinal o Brasil é o “país do futebol”.

É isso.