quarta-feira, 19 de junho de 2013

Impressões sobre a maior mobilização desde o Impeachement do Collor

Ontem, 17/06/2013, testemunhei uma das cenas mais impressionantes que já vi. Milhares de pessoas no protesto do Movimento Passe Livre. Dezenas, talvez centenas de milhares. Não tinham apenas 65 mil pessoas. Tinha mais gente do que no réveillon de Copacabana, garanto! Milhares de brasileiros se mobilizaram para protestar. De várias cidades distintas. Um desfile que chegava até onde a vista poderia chegar.

Av. Brigadeiro Faria Lima, 17/06/2013

O que mais me chamou a atenção foram algumas características da mobilização, fato que muitos ignoram deslumbrados pela grandiosidade da coisa. Vou falar da manifestação na cidade de São Paulo, SP, pois estava nela e vi, ao vivo, o que houve.

·      A manifestação não foi politizada, graças aos esforços de seus líderes. Haviam poucas bandeiras da união soviética, do PSTU, algumas  “Fora Alckmin” e vi até mesmo uma “Fora Collor”. Mas eram bem poucas.
·      Não há estatísticas oficiais, porém, por observação, percebe-se que a grande maioria dos manifestantes são da classe média. (Nesse meio tempo saiu uma:
·      O objetivo a ser alcançado é simples e claro. Não envolvia moralidade ou ideologia.
·      Não haviam apenas jovens. Existiam muitos adultos, acompanhados ou não das famílias.

A grande pergunta é: Porque R$ 0,20 fizeram tanta gente se reunir? “Não são só R$ 0,20!”, dirá a maioria dos manifestantes. “É algo muito maior!”, complementam. Entretanto, poucos conseguem colocar em palavras claras. Fato que dá uma conotação de molecagem aos manifestantes. No entanto, se pararmos para analisar os pontos acima, veremos que ele é um cenário extremamente convidativo para quem menos vê resultado na imensa cobrança de impostos aos quais somos sujeitos querer protestar. Não só por conta dos impostos. Mas por desrespeito dos nossos representantes no executivo e legislativo. Um ciclo enorme, de mais de 10 anos de desrespeito, que cada vez é mais escancarado. Vamos aos fatos:

·      Há mais de 10 anos os nossos representantes no governo, bem como seu aliados tem literalmente cuspido na cara dos eleitores. Fazendo promessas de campanha sem a menor intenção de cumprir, dizendo que odeiam a classe média, chamando-a ignorante e facista. Como no caso mais recente da filósofa Marilena Chauí. Inflando a máquina pública de maneira escancarada e superfaturando obras e exaltando a impunidade. Ou mesmo, mostrando desdém por quem representam. Alguns pouquíssimos exemplos abaixo:



o   http://deputados.democratas.org.br/promessometro/ (Não achei um órgão isento para subsidiar esse, mas o site é bem estruturado e fundamenta cada uma das denúncias.)


·      Nos últimos 3 anos a carga tributária tem atingido patamares estratosféricos. Como um certo senhor de 9 dedos gosta de dizer, nunca na história deste país se cobrou tanto imposto. Mas os serviços... E a classe média é a quem mais sofre com eles.


·      Nas últimas semanas, em São Paulo, não se pode mais andar na rua de noite sem correr o risco de levar um tiro ou de ser queimado vivo, pois virou moda a piromania dos ladrões. E o melhor: eles são tratados como vítima do sistema! E nós (nós, pois eu me incluo nela), a classe média, “burguesa e burra”, segundo a ideologia governista atual, ainda tem que ouvir que é a culpada de sua própria desgraça, pois oprimimos os menos afortunados ganhando o nosso salário e comprando qualquer coisa que seja de qualidade para instigar a cobiça de quem não tem.


Um ciclo que gerou um sentimento de impotência do poder do cidadão diante da constante de que tudo acaba em pizza no Brasil. As pessoas, principalmente da classe média, cansadas de sentir-se miseráveis e de confiar suas ações de mudança em seus votos, juntaram-se para protestar e passar um simples recado: Nós temos força! Em um país em que se tem a impressão de um governo classista, que atua em favor ou dos ricos ou dos pobres, quem foi abandonado mostrou seus dentes.

Vem então o porém. O recado foi dado. E agora? Muitos estão deslumbrados com o poder que descobriram ter. Que "alguma coisa" vai mudar. Isso é muito genérico. Não se enganem. Tamanho protesto tem como única reivindicação pedir o fim dos R$ 0,20 de aumento na passagem. Para que algo mude, é necessário organização e foco em coisas concretas, senão vira rebeldia sem causa. E rebeldia sem causa não muda a vida de uma país. Por exemplo, precisa-se pensar com prudência se será bom para o país continuar protestos contra a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Porque? Ora, antes de fazer qualquer protesto, deve-se medir as consequências. Esses demais protestos estão medindo?

Tenho esperança de que realmente um gigante aberto os olhos.

E agora Marilena Chauí?!


É isso!