O Macaco de Três Cabeças
Para Alan Biffi e Fábio Tomio (que me deram a idéia).
Quem nunca brincou de enganar um amigo? Fábio queria se sentar onde Plínio se sentara. Não pensou duas vezes, gritou:
- Olha, Plínio! Um macaco de três cabeças!
Plínio que se levantara ávido para enxergar o animal gritando “Onde, onde?” nem se dera conta de que fora passado para trás e perdera seu lugar no banco embaixo da sombra das árvores da pracinha do bairro para Fábio.
- Ah, meu! Você me passou para trás! – Plínio resmungava.
Nem era necessário dizer que a risada tomou conta da turma ao ver o amigo acreditar que realmente existia um macaco de três cabeças. Jurandir estava ficando inclusive com cãibras na barriga e no rosto de tanto que ria. Fábio já estava com excesso de ácido láctico há algum tempo, de tantas gargalhadas. Desta simples zombaria, naquela tarde de quarta-feira, surgiu o macaco de três cabeças. Ele desceu de uma grande sibipiruna acima dos três amigos, para grande espanto dos dois
sentados. Saltou no meio dos três garotos como uma grande bola de pêlo preta, ficando de costas para Plínio e com as três faces de frente para Jurandir e Fábio. Das três cabeças do excêntrico animal, uma não falava, outra não ouvia e a outra não enxergava mostrando os olhos vazados sempre abertos. Ele tinha a dimensão de um gorila. Seu corpanzil impunha respeito a julgar pela sua suposta força, porém suas cabeças eram menores do que o proporcional. Se apenas houvesse uma delas presa ao corpo, o monstro teria uma aparência ridícula.
Lágrimas escorriam, contornando as espinhas e molhando os cravos do rosto de Plínio. Maravilhado pelo ser fantástico a sua frente, pulava e pulava de alegria com os braços esticados para cima. A cada salto, Plínio encolhia as pernas quando estava no alto e as esticava para a aterrissagem gritando vivas e mais vivas. Acreditava piamente que o ser era um fruto de sua fértil imaginação de um adolescente de treze anos, como nas revistas em quadrinhos japonesas que lia religiosamente. Creu, naquele momento, ser o senhor do macaco. Um garoto poderoso.
Quem nunca brincou de enganar um amigo? Fábio queria se sentar onde Plínio se sentara. Não pensou duas vezes, gritou:
- Olha, Plínio! Um macaco de três cabeças!
Plínio que se levantara ávido para enxergar o animal gritando “Onde, onde?” nem se dera conta de que fora passado para trás e perdera seu lugar no banco embaixo da sombra das árvores da pracinha do bairro para Fábio.
- Ah, meu! Você me passou para trás! – Plínio resmungava.
Nem era necessário dizer que a risada tomou conta da turma ao ver o amigo acreditar que realmente existia um macaco de três cabeças. Jurandir estava ficando inclusive com cãibras na barriga e no rosto de tanto que ria. Fábio já estava com excesso de ácido láctico há algum tempo, de tantas gargalhadas. Desta simples zombaria, naquela tarde de quarta-feira, surgiu o macaco de três cabeças. Ele desceu de uma grande sibipiruna acima dos três amigos, para grande espanto dos dois
sentados. Saltou no meio dos três garotos como uma grande bola de pêlo preta, ficando de costas para Plínio e com as três faces de frente para Jurandir e Fábio. Das três cabeças do excêntrico animal, uma não falava, outra não ouvia e a outra não enxergava mostrando os olhos vazados sempre abertos. Ele tinha a dimensão de um gorila. Seu corpanzil impunha respeito a julgar pela sua suposta força, porém suas cabeças eram menores do que o proporcional. Se apenas houvesse uma delas presa ao corpo, o monstro teria uma aparência ridícula.
Lágrimas escorriam, contornando as espinhas e molhando os cravos do rosto de Plínio. Maravilhado pelo ser fantástico a sua frente, pulava e pulava de alegria com os braços esticados para cima. A cada salto, Plínio encolhia as pernas quando estava no alto e as esticava para a aterrissagem gritando vivas e mais vivas. Acreditava piamente que o ser era um fruto de sua fértil imaginação de um adolescente de treze anos, como nas revistas em quadrinhos japonesas que lia religiosamente. Creu, naquele momento, ser o senhor do macaco. Um garoto poderoso.
Fábio não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Estava
paralisado. As pernas estavam esticadas. A bunda, qualquer um
diria colada no assento de concreto. Não corria. Jurandir o abraçara
com força e batia os dentes como se estivesse o mais frio dos
invernos naquela ensolarada tarde de verão.
O macaco de três cabeças então se pôs ereto, olhou para baixo, vislumbrando as duas criaturas em pânico, encolhidas. Então, a cabeça do meio, que não tinha orelhas falou:
- Sou o macaco de três cabeças, o ser mais sábio do mundo. Meu julgamento é perfeito. Minha sentença é implacável. Minha palavra é única.
Plínio entrou na frente dos dois amigos e falou:
- Você é meu! Você é perfeito porque surgiu da minha fé! Do meu poder! Agora se curve diante de mim e me ponha sentado em cima do seu ombro, pois vamos nos apresentar ao mundo e salvá-lo do mal.
A cabeça sem boca olhou na direção do garoto que num instante passara de bobo a déspota. Então a cabeça cega abriu a boca:
- A decisão foi unânime. Seu julgamento foi encerrado. O veredicto será dado com a sentença!
Então a cabeça do meio olhou para Plínio junto com a cabeça sem boca. Como um bate-estaca o braço do macaco desceu sobre a cabeça do garoto que apontava o dedo para ele e o esmagou, espalhando suas tripas e ossos pelo chão. Só os braços ainda continuavam a manter a forma original. O resto conferia a uma pizza com dois braços no piso de cimento trincado da pracinha. Até o desenho da amarelinha pintado no chão fora coberto por sangue. Jurandir e Fábio soltaram um grito oco. Em nada pensavam, se não em onde estariam outros transeuntes que pudessem ver o que acontecia e, de alguma maneira, obter ajuda.
Publicado originalmente no O Condutor, 03/2005.
Sim, termina desse jeito. Quem sabe um dia eu ainda continuo a história...
É isso.
O macaco de três cabeças então se pôs ereto, olhou para baixo, vislumbrando as duas criaturas em pânico, encolhidas. Então, a cabeça do meio, que não tinha orelhas falou:
- Sou o macaco de três cabeças, o ser mais sábio do mundo. Meu julgamento é perfeito. Minha sentença é implacável. Minha palavra é única.
Plínio entrou na frente dos dois amigos e falou:
- Você é meu! Você é perfeito porque surgiu da minha fé! Do meu poder! Agora se curve diante de mim e me ponha sentado em cima do seu ombro, pois vamos nos apresentar ao mundo e salvá-lo do mal.
A cabeça sem boca olhou na direção do garoto que num instante passara de bobo a déspota. Então a cabeça cega abriu a boca:
- A decisão foi unânime. Seu julgamento foi encerrado. O veredicto será dado com a sentença!
Então a cabeça do meio olhou para Plínio junto com a cabeça sem boca. Como um bate-estaca o braço do macaco desceu sobre a cabeça do garoto que apontava o dedo para ele e o esmagou, espalhando suas tripas e ossos pelo chão. Só os braços ainda continuavam a manter a forma original. O resto conferia a uma pizza com dois braços no piso de cimento trincado da pracinha. Até o desenho da amarelinha pintado no chão fora coberto por sangue. Jurandir e Fábio soltaram um grito oco. Em nada pensavam, se não em onde estariam outros transeuntes que pudessem ver o que acontecia e, de alguma maneira, obter ajuda.
Publicado originalmente no O Condutor, 03/2005.
Sim, termina desse jeito. Quem sabe um dia eu ainda continuo a história...
É isso.