domingo, 1 de dezembro de 2013

Que se cortem as árvores !


Hoje pela manhã assisti uma cena que me chamou a atenção.  Em uma cidade perto de Brasília um rio havia sido canalizado.  As imagens mostravam um excelente trabalho de canalização.  Em certo lugar, provavelmente passando por baixo de uma estrada, formava um túnel, uma espécie de gruta bem grande para conter um grande volume de água.  Mas, naquele momento, corria apenas um filete de água.  O fato é que alguns adolescentes da região resolveram brincar dentro daquele túnel e houve uma tromba d’água na cabeceira do rio que fez subir a água (por isso o túnel era grande), de repente e os levou.  Dois morreram.

Na sequencia da reportagem, aparece o pai de um das vítimas emocionado e clamando por providências de que o rio fosse cercado.  O rio fosse cercado?!?! Mas ele sempre esteve lá.  Foram os adolescentes imprudentes que se meteram onde não deviam...

No mesmo dia outra notícia trágica.  Na cidade de Jacareí foi construído um piscinão para acumular água da chuva.  Ele estava totalmente cercado e com placas de aviso de perigo.  Outra vez um grupo de adolescentes pulou a cerca e foram nadar.  Um morreu afogado.  Adivinhe?  O pai do rapaz aparece colocando a culpa na prefeitura.

Diante dessa mentalidade mostrada na TV, fiquei imaginando a seguinte situação: uma criança sobe em uma árvore na rua, cai e morre.  Os pais apareceriam na televisão solicitando que se cortassem as árvores.  Ou seja, a culpa é da árvore por existir e da prefeitura que a plantou, mas não da criança ou mesmo de um adulto que tenha subida nela.  Agora para impedir novas “travessuras” que se cortem as árvores.

Fico impressionado com a capacidade dos brasileiros nunca pensar que são responsáveis pelos seus atos e atribuem a culpa a outrem, preferencialmente o governo.  Nos dois casos, a responsabilidade direta do ocorrido cabe às vítimas e indiretamente a seus pais que não os educaram para disciplina e bom senso.  De ninguém mais.

Enquanto nos conformarmos em culpar o governo, a sociedade ou o “sistema” (o que é isso?) continuaremos a trilhar caminhos perigosos onde as consequências são por vezes fatais.  Enquanto isso não acontecer: que se cortem as árvores!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nas Coxas

A importação massiva de médicos já é um assunto meio batido. Eu não gosto de ficar falando sobre o assunto do momento. Por isso esperei mais um pouco a fim de tentar enxergar algo diferente. Para quem não sabe, agora no Brasil está acontecendo um programa governamental chamado de “Mais Médicos”.


Neste programa, foi prevista a contratação/ importação de quatro mil “médicos” cubanos. Coloquei entre parêntesis a palavra médico, pois os profissionais oriundos de Cuba, serão favorecidos por “ações afirmativas” para virem trabalhar no Brasil, pois serão eximidos da revalidação do seu diploma.


Esse programa é no mínimo esquisito! Em 2008, deputados, liderados por Arlindo Chináglia (PT-SP), entraram com um pedido urgente para se proibir a criação de novos cursos de medicina no país. Tal medida visava não comprometer a qualidade do ensino de medicina no país. Vale dizer que esta decisão não foi apenas política, mas teve respaldo do CFM (Conselho Federal de Medicina).


Não obstante, os médicos de cubanos não terão vínculo empregatício e 60% do salário deles como pagamento para o governo de Cuba. Coloco então as seguintes perguntas:

O programa mais médicos é incoerente?
Totalmente. Mais do que isso. Revela a inexistência de um plano de governo seja de pequeno, médio ou longo prazo.

Dispensar os médicos cubanos do exame para a revalidação do diploma não é a mesma coisa que cuspir na cara dos médicos formados no Brasil?
Sim, é. Não importa o quanto neguem ou inventem desculpas. É um desrespeito ao profissional médico formado no Brasil. Não estamos em guerra ou estado de exceção para tanto. Ainda mais, dada a incoerência com a proibição da abertura de novos cursos de medicina em 2008 em prol da qualidade dos médicos a serem formados. Desta forma, não é nenhum preconceito dos médicos brasileiros hostilizarem os cubanos. Eles tem o total direito de não considerar os cubanos seus colegas. Os cubanos, sem legalizar o diploma, estão cometendo crime de exercício ilegal da medicina. O CRM foi proibido de contestar os diplomas dos médicos estrangeiros. Se fosse com um veículo da imprensa, o nome disto seria censura. E para com o CRM, qual o nome?

Ao repassar dinheiro para Cuba pelo serviço dos médicos que estão imigrando para o nosso país, não é uma traição em prol do alinhamento  ideológico da ala governista?
Com certeza. O Brasil está em uma situação precisa de muitos médicos. Com o valor a ser repassado para Cuba, seria possível no mínimo contratar o dobro de médicos cubanos para vir trabalhar no Brasil. Afinal, Cuba fica com 60%. Isso não é trair o contribuinte que paga por serviços?! Lógico que é! O dinheiro do contribuinte não é para ficar fazendo “caridade” a outro país apenas porque ele é ideologicamente alinhado. Porque é justo Cuba receber? Cuba é dona de seus cidadãos para que precisemos pagar aluguel pelo uso deles? ISSO É TRABALHO ESCRAVO! Dizem que pagam 10 mil reais, mas os médicos só recebem 3500 reais. Mas pensando por um lado bem perverso, alguém precisa sustentar a conspiração comunista mundial, não é?



Como curiosidade, esta carta da figura acima é um dos grupos mais poderosos do jogo Illuminati (muito falado em teorias da conspiração). Tanto por sua força, quanto por sua renda.

O real propósito de repassar dinheiro a Cuba é caridade?
Existem um monte de teorias da conspiração sobre o médicos cubanos. Com toda a certeza não é por caridade que repassam dinheiro para Cuba. Vamos pensar na conveniência de o fazer? Repassar o dinheiro para Cuba não é averiguado por nossa receita federal. Desta forma, o repasse de R$ 24.000.000,00 mensais fica sob controle de uma instituição governamental ditatorial estrangeira que não presta contas a ninguém. E qual é o principal atrativo de um paraíso fiscal? O sigilo do cliente! Imagine Cuba como uma grande conta corrente.
As vezes o real propósito de algo obscuro é relativamente simples.
Agora, estão mesmo usando Cuba para lavar dinheiro (no caso é roubar mesmo)? Não sei...

O programa mais médicos, dado todo o contexto político pelo qual o país está passando, não passa de um programa governamental de objetivo puramente eleitoreiro ou de bomba de fumaça?
Dado todo o contexto das manifestações e o alinhamento ideológico dos profissionais que vem, é difícil imaginar que o programa não tenha uma finalidade eleitoreira, para dizer que estão fazendo algo pelos carentes ou mesmo para que os médicos sirvam de cabo eleitoral. Bomba de fumaça, acho que não. Quando se tomam medidas autoritárias para concretizar algo com certeza não é para camuflar, mas sim para passar um recado: Perdemos o respeito.

Muitas outras perguntas podem ser feitas a respeito do tema. Principalmente a respeito do que deve ser feito para suprir a necessidade de médicos em locais remotos do país. O Mais Médicos nada mais é do que o reflexo da ineficiência da máquina governamental (nunca na história deste país admitiram). Não está sendo feito desta forma porque os políticos se importam com quem mora em terras longínquas. Qual a diferença entre o Mais Médicos e as obras para a Copa do Mundo? Nenhuma! Era do conhecimento de todos que era preciso fazer, mas sempre foi deixado de lado até que, tarde demais, por falta de planejamento e seriedade, faz-se o uso de "decretos" para fazer acontecer. Quando isto ocorre, passa-se por cima da lei, faz-se vista grossa a contratos estranhos e tomam-se decisões temerárias, pois enquanto havia tempo para estudo e formulações das mesmas, não fizeram planejamento algum. O nome deste projeto deveria ser Nas Coxas.

É isso!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Sutilezas do Controle Ideológico

(Grande parte do conteúdo deste post estava escrito desde junho de 2012.)
Recentemente, por conta dos post do “Anonymous”, muita gente tem compartilhado preocupação a respeito de uma conspiração comunista.  Implantação, por força, de uma ideologia de esquerda no país. Abaixo vai o vídeo do “Anonymous” que eu vi.


O que me chamou a atenção nesse vídeo, é que esse negócio do Foro de São Paulo, além de muito grande, é muito velho! É escancarado! Um plano grandioso demais. Tem até as atas publicadas e com acesso ao público. E só agora que reparam? Mas, tudo bem. Vamos continuar.

No começo de 2012, vi a notícia do link abaixo e fiquei muito preocupado.


A notícia relata um episódio em que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, no fórum Social Mundial de 2012, fala em disputar o Controle Ideológico da classe C com os evangélicos. Ouvir tal observação vindo de uma pessoa do alto escalão do governo é no mínimo assustador. Seja de qual ideologia for! Afinal de contas, deve o governo fazer controle ideológico de seus cidadãos? Para mim isto é claramente uma atitude de um governo totalitário. Entretanto, é difícil amarrar os pontos das coisas sem evidências mais concretas. Senão não passa de simples teoria da conspiração. Parei então para pensar nas coisas pequenas em nossa sociedade para entender exatamente o porque o Controle Ideológico sobre os evangélicos, em específico. Sim. A TFP sempre foi uma forte instituição católica conservadora de direita. Ela não bate de frente? Pois bem, um colega do trabalho postou o seguinte vídeo, de uma análise profunda, em que um padre discorre sobre o mesmo tema.


Em tempo, espero que o Papa Francisco tenha vindo ao Brasil para tratar deste tema também. Neste vídeo o padre afirma que o governo já considera os católicos vencidos ideologicamente (Não são palavras minhas. Veja o vídeo inteiro. O padre fala com propriedade e sabedoria! Sem religião nenhuma na história.). É triste! Caiu então a ficha: Em religiões o padrão de conduta não é ditado pelo governo. Afinal, “... Mais importa mais obedecer a Deus do que aos homens.(Atos 5:29)”.

Em seguida, surgiu um assunto que passou um tanto esquecido: a reformulação de nosso código penal.


Não é preciso ser nenhum gênio para perceber a total influência excessiva socialista/comunista nas novas leis. Cada vez mais a liberdade individual dá lugar a um comportamento padronizado ditado pelo Estado. Basta nas propostas de leis onde praticamente tudo está sendo criminalizado, mesmo que não seja fiscalizado. O que é um absurdo, pois se atribui poder demais do Estado sobre o cidadão. Você pode se perguntar: mas se não é fiscalizado, qual é o problema?”. Simples! Você vira um criminoso de acordo com a conveniência. Toda essa padronização tem um nome: "Politicamente correto". Sim. Mas quem dita a política? Quem dita o conteúdo a ser ensinado nas escolas?

Desta forma, a conspiração grande conspiração comunista de que o Anonymous fala é com o que devemos nos preocupar? Não! Devíamos é agradecer por eles escancararem o que pensam e seus planos, pois isso nos dá condições de reagir! Porém são nas coisas pequenas e sutis em que o governo executa o seu controle ideológico sobre o cidadão. Onde ele mina as nossas forças. Seja pelo discurso do politicamente correto que cada vez tenta calar mais os outros, tirando a força da nossa opinião. Roubando a força das nossas iniciativas, pois outros cidadãos paternalistas não se mobilizam, mas acham que o governo tem que prover tudo. Por força de leis que limitam a nossa liberdade (no sentido amplo). Por meio da educação tendenciosa, seja por meio do assistencialismo ou por meio do progresso virtual da nossa economia (que está estourando). Mais do que Ideológico. Apenas Controle.


É isso!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Impressões sobre a maior mobilização desde o Impeachement do Collor

Ontem, 17/06/2013, testemunhei uma das cenas mais impressionantes que já vi. Milhares de pessoas no protesto do Movimento Passe Livre. Dezenas, talvez centenas de milhares. Não tinham apenas 65 mil pessoas. Tinha mais gente do que no réveillon de Copacabana, garanto! Milhares de brasileiros se mobilizaram para protestar. De várias cidades distintas. Um desfile que chegava até onde a vista poderia chegar.

Av. Brigadeiro Faria Lima, 17/06/2013

O que mais me chamou a atenção foram algumas características da mobilização, fato que muitos ignoram deslumbrados pela grandiosidade da coisa. Vou falar da manifestação na cidade de São Paulo, SP, pois estava nela e vi, ao vivo, o que houve.

·      A manifestação não foi politizada, graças aos esforços de seus líderes. Haviam poucas bandeiras da união soviética, do PSTU, algumas  “Fora Alckmin” e vi até mesmo uma “Fora Collor”. Mas eram bem poucas.
·      Não há estatísticas oficiais, porém, por observação, percebe-se que a grande maioria dos manifestantes são da classe média. (Nesse meio tempo saiu uma:
·      O objetivo a ser alcançado é simples e claro. Não envolvia moralidade ou ideologia.
·      Não haviam apenas jovens. Existiam muitos adultos, acompanhados ou não das famílias.

A grande pergunta é: Porque R$ 0,20 fizeram tanta gente se reunir? “Não são só R$ 0,20!”, dirá a maioria dos manifestantes. “É algo muito maior!”, complementam. Entretanto, poucos conseguem colocar em palavras claras. Fato que dá uma conotação de molecagem aos manifestantes. No entanto, se pararmos para analisar os pontos acima, veremos que ele é um cenário extremamente convidativo para quem menos vê resultado na imensa cobrança de impostos aos quais somos sujeitos querer protestar. Não só por conta dos impostos. Mas por desrespeito dos nossos representantes no executivo e legislativo. Um ciclo enorme, de mais de 10 anos de desrespeito, que cada vez é mais escancarado. Vamos aos fatos:

·      Há mais de 10 anos os nossos representantes no governo, bem como seu aliados tem literalmente cuspido na cara dos eleitores. Fazendo promessas de campanha sem a menor intenção de cumprir, dizendo que odeiam a classe média, chamando-a ignorante e facista. Como no caso mais recente da filósofa Marilena Chauí. Inflando a máquina pública de maneira escancarada e superfaturando obras e exaltando a impunidade. Ou mesmo, mostrando desdém por quem representam. Alguns pouquíssimos exemplos abaixo:



o   http://deputados.democratas.org.br/promessometro/ (Não achei um órgão isento para subsidiar esse, mas o site é bem estruturado e fundamenta cada uma das denúncias.)


·      Nos últimos 3 anos a carga tributária tem atingido patamares estratosféricos. Como um certo senhor de 9 dedos gosta de dizer, nunca na história deste país se cobrou tanto imposto. Mas os serviços... E a classe média é a quem mais sofre com eles.


·      Nas últimas semanas, em São Paulo, não se pode mais andar na rua de noite sem correr o risco de levar um tiro ou de ser queimado vivo, pois virou moda a piromania dos ladrões. E o melhor: eles são tratados como vítima do sistema! E nós (nós, pois eu me incluo nela), a classe média, “burguesa e burra”, segundo a ideologia governista atual, ainda tem que ouvir que é a culpada de sua própria desgraça, pois oprimimos os menos afortunados ganhando o nosso salário e comprando qualquer coisa que seja de qualidade para instigar a cobiça de quem não tem.


Um ciclo que gerou um sentimento de impotência do poder do cidadão diante da constante de que tudo acaba em pizza no Brasil. As pessoas, principalmente da classe média, cansadas de sentir-se miseráveis e de confiar suas ações de mudança em seus votos, juntaram-se para protestar e passar um simples recado: Nós temos força! Em um país em que se tem a impressão de um governo classista, que atua em favor ou dos ricos ou dos pobres, quem foi abandonado mostrou seus dentes.

Vem então o porém. O recado foi dado. E agora? Muitos estão deslumbrados com o poder que descobriram ter. Que "alguma coisa" vai mudar. Isso é muito genérico. Não se enganem. Tamanho protesto tem como única reivindicação pedir o fim dos R$ 0,20 de aumento na passagem. Para que algo mude, é necessário organização e foco em coisas concretas, senão vira rebeldia sem causa. E rebeldia sem causa não muda a vida de uma país. Por exemplo, precisa-se pensar com prudência se será bom para o país continuar protestos contra a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Porque? Ora, antes de fazer qualquer protesto, deve-se medir as consequências. Esses demais protestos estão medindo?

Tenho esperança de que realmente um gigante aberto os olhos.

E agora Marilena Chauí?!


É isso!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

O Macaco de Três Cabeças

Conforme eu havia prometido, aqui vai o texto que motivou todo o último post. Sim, tenho coisas mais interessantes para escrever. Porém, esse conto, por qualquer qualidade ou defeito que tenha, foi o meu pontapé inicial para escrever. Daí para frente, não parei mais. Só de vez em quando, vai...


O Macaco de Três Cabeças


Para Alan Biffi e Fábio Tomio (que me deram a idéia).

Quem nunca brincou de enganar um amigo? Fábio queria se sentar onde Plínio se sentara. Não pensou duas vezes, gritou:
- Olha, Plínio! Um macaco de três cabeças!
Plínio que se levantara ávido para enxergar o animal gritando “Onde, onde?” nem se dera conta de que fora passado para trás e perdera seu lugar no banco embaixo da sombra das árvores da pracinha do bairro para Fábio.
- Ah, meu! Você me passou para trás! – Plínio resmungava.
Nem era necessário dizer que a risada tomou conta da turma ao ver o amigo acreditar que realmente existia um macaco de três cabeças. Jurandir estava ficando inclusive com cãibras na barriga e no rosto de tanto que ria. Fábio já estava com excesso de ácido láctico há algum tempo, de tantas gargalhadas. Desta simples zombaria, naquela tarde de quarta-feira, surgiu o macaco de três cabeças. Ele desceu de uma grande sibipiruna acima dos três amigos, para grande espanto dos dois
sentados. Saltou no meio dos três garotos como uma grande bola de pêlo preta, ficando de costas para Plínio e com as três faces de frente para Jurandir e Fábio. Das três cabeças do excêntrico animal, uma não falava, outra não ouvia e a outra não enxergava mostrando os olhos vazados sempre abertos. Ele tinha a dimensão de um gorila. Seu corpanzil impunha respeito a julgar pela sua suposta força, porém suas cabeças eram menores do que o proporcional. Se apenas houvesse uma delas presa ao corpo, o monstro teria uma aparência ridícula.

Lágrimas escorriam, contornando as espinhas e molhando os cravos do rosto de Plínio. Maravilhado pelo ser fantástico a sua frente, pulava e pulava de alegria com os braços esticados para cima. A cada salto, Plínio encolhia as pernas quando estava no alto e as esticava para a aterrissagem gritando vivas e mais vivas. Acreditava piamente que o ser era um fruto de sua fértil imaginação de um adolescente de treze anos, como nas revistas em quadrinhos japonesas que lia religiosamente. Creu, naquele momento, ser o senhor do macaco. Um garoto poderoso.
Fábio não sabia o que dizer. Não sabia o que pensar. Estava paralisado. As pernas estavam esticadas. A bunda, qualquer um diria colada no assento de concreto. Não corria. Jurandir o abraçara com força e batia os dentes como se estivesse o mais frio dos invernos naquela ensolarada tarde de verão.
O macaco de três cabeças então se pôs ereto, olhou para baixo, vislumbrando as duas criaturas em pânico, encolhidas. Então, a cabeça do meio, que não tinha orelhas falou:
- Sou o macaco de três cabeças, o ser mais sábio do mundo. Meu julgamento é perfeito. Minha sentença é implacável. Minha palavra é única.
Plínio entrou na frente dos dois amigos e falou:
- Você é meu! Você é perfeito porque surgiu da minha fé! Do meu poder! Agora se curve diante de mim e me ponha sentado em cima do seu ombro, pois vamos nos apresentar ao mundo e salvá-lo do mal.
A cabeça sem boca olhou na direção do garoto que num instante passara de bobo a déspota. Então a cabeça cega abriu a boca:
- A decisão foi unânime. Seu julgamento foi encerrado. O veredicto será dado com a sentença!
Então a cabeça do meio olhou para Plínio junto com a cabeça sem boca. Como um bate-estaca o braço do macaco desceu sobre a cabeça do garoto que apontava o dedo para ele e o esmagou, espalhando suas tripas e ossos pelo chão. Só os braços ainda continuavam a manter a forma original. O resto conferia a uma pizza com dois braços no piso de cimento trincado da pracinha. Até o desenho da amarelinha pintado no chão fora coberto por sangue. Jurandir e Fábio soltaram um grito oco. Em nada pensavam, se não em onde estariam outros transeuntes que pudessem ver o que acontecia e, de alguma maneira, obter ajuda. 

Publicado originalmente no O Condutor, 03/2005.

Sim, termina desse jeito. Quem sabe um dia eu ainda continuo a história...

É isso.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

A Originalidade e o Macaco de Três Cabeças


Como é difícil ser original em alguma coisa! Recentemente, no trabalho, saí do elevador e ouvi um certo rapaz falar para uma senhora: “Olha! Um macaco de três cabeças!” Eu fiquei, além de espantado, orgulhoso! Afinal um total desconhecido leu um conto que eu escrevi (Publicado em 2004, no jornal da minha faculdade). Com o passar do dia, ao comentar com um colega de trabalho o que tinha acontecido, ele responde de bate pronto que já ouviu a expressão. Ela vem de um jogo muito antigo, de 1990, chamado Monkey Island. Um personagem do jogo usava essa expressão para enganar os outros. Até a figura do Macaco de Três Cabeças que eu concebi em minha mente é parecida com a mostrada pelo jogo.


Monkey Island


O Macaco de Três Cabeças do Jogo Monkey Island

Refletindo melhor sobre a ocasião, escrevi a referida história por conta de uma história engraçada que meus amigos contaram. De que um rapaz apontou o dedo para um suposto macaco de três cabeças e enganou outro. Ou seja, ou a pessoa era muito criativa, ou ela tinha jogado Monkey Island. E acabei me convencendo de que a minha idéia não era tão original quanto eu pensava. É curioso, mas quando digitei o nome do referido conto no google, apareceu no primeiro resultado “Monkey Island” (Já buscando no Yahoo aparece outra coisa, mas não vem ao caso). Em 2004, o primeiro resultado que aparecia era o do jornal da faculdade. Não havia nada sobre esse jogo. Lendo um pouco mais os resultados percebi que o Monkey Island apareceu em primeiro lugar dada a declarada inspiração neste jogo para o roteiro do filme Piratas do Caribe. Mas quem se lembrava do Monkey Island? Passei a prestar um pouco mais de atenção neste tipo de coisa em um sentido mais amplo.

“As aventuras de Pi” x “Max e os Felinos”


Capas dos respectivos Livros

A idéia do filme, para mim, pareceu muito original até ver o artigo acima. Se baseia em um livro do brasileiro Moacyr Scliar. É curioso que o autor do filme realmente viu o livro e acusou o brasileiro de estragar uma ótima idéia. Idéia que veio do próprio brasileiro e não do cara (Yann Martel). Que folgado! Fácil criticar depois que já está feito, não? Enfim, vale a pena ver a entrevista que o autor do livro original dá sobre o assunto, de originalidade, inclusive:


“Ipad” x “Tablets”

Depois que Steve Jobs faleceu, ele quase foi canonizado como santo inventor dos tablets e dos smartphones. Mas ele não foi quem tem teve essas idéias não. Já haviam vários produtos no mercado antes do dele. Porém, na era moderna, o ex-presidente da Apple é conhecido como o pai desses aparelhos, de um modo geral.


“Viva La Vida” x “If I Could Fly”

Esse já é um dos mais escandalosos, mas poucos prestaram atenção. O Coldplay, colocou uma letra em cima da música “If I Could Fly” do Joe Satriani, e a chamou de “Viva La Vida”. Não sou eu quem está falando não. Tem uma série de vídeos em que vários músicos provam que é plágio. Mas enfim, quantos sabiam que o Joe Satriani tinha uma música assim?



Se pararmos para ver o ponto em comum dos 3 casos que mostrei, em todos observamos que quem é lembrado é quem teve o seu produto mais consumido no mercado. Que conseguiu vender a idéia mesmo não sendo sua! É esse o reconhecido como autor original da coisa.

·      No caso do livro, “As aventuras de Pi” vendeu infinitamente mais do que “Max e os Felinos”.
·      No caso dos Tablets e Smartphones, Iphones e Ipads são e continuarão dominando uma grande fatia do mercado por um bom tempo.
·      No caso das músicas, Coldplay, é uma banda muito mais pop e cujas músicas tem muito mais exposição nas rádios do que as músicas de Joe Satriani, um grande instrumentista.

Realmente, hoje ainda é mais difícil ser original! Estando conectado na internet, conseguimos saber com muito mais eficiência se alguém já teve alguma de nossas idéias. Porém é impossível saber com certeza, se quem as teve não as divulga.

Com relação ao meu conto que originou este post, será postado logo em seguida.

É isso!