Dando continuidade ao post anterior, continuarei sobre discorrendo sobre algumas impressões sobre o Japão durante o curto período em que estive lá. Alguns podem ser bem polêmicos.
Pudor
O pudor do japonês é diferente do brasileiro. Já vi isso em alguns documentários que passaram na TV Cultura aqui no Brasil. Por uma série de fatores, incluindo o religioso. A influência católica no Brasil afetou em muito nosso senso de pudor. Todavia, não é meu intuito discutir sobre o pudor do meu país. Vou fazer apenas algumas observações pontuais. Observe o banheiro masculino do shinkansen (trem-bala).
Banheiro Masculino de Xixi do Shinkansen
É um banheiro público e fica no meio do corredor comum do trem, dedicado exclusivamente ao público masculino para fazer xixi. Já repararam na janela do banheiro? Ela não fecha! Isso mesmo. Você sabe se o banheiro está ocupado ou não só de olhar. Mais do que isso: você sabe quem está usando e como a pessoa está usando. Se abaixou ou não a calça. Se lavou ou não as mãos. Privacidade zero. Não consigo imaginar um banheiro assim sendo aceito na boa no Brasil ou mesmo nos EUA. "Ah, você está exagerando!". Se fosse apenas o caso isolado do banheiro do trem bala, talvez estivesse. Mas não é só lá que se encontra situações semelhantes. Por exemplo os banheiros públicos do castelo Himeji. Apenas as "casinhas" são fechadas. Existe uma janela bem grande que possibilita aos transeuntes observarem quem está no banheiro e fazendo o que no banheiro. Sim, privacidade só na casinha mesmo. Não se enganem: isso é válido tanto para os banheiros masculinos quanto para os femininos.
Cybercops
Se existe algum objeto que caracteriza o japão moderno, esse objeto é a Vending Machine ou Máquina de Vendas.
Vending Machines Genéricas
Geralmente usadas para bebidas e cigarros. Praticamente em toda a esquina tem uma. Até aí, tudo bem. Mas a presença delas é algo mais onipresente. Perambulando pelo interior do Japão era capaz de encontrar vending machines no meio de terrenos baldios e locais ermos (infelizmente não tirei fotos). Pasmem, elas funcionavam de noite também. Em meio a escuridão total se via o brilho de uma máquina de refrigerantes. Parece até coisa de filme de terror. Em Kyoto, um casal de amigos relatou que se perderam no meio da montanha, fora da trilha, no Fushimi Inari (o templo famoso dos portais vermelhos) e, no meio do mato, havia uma vending machine funcionando.
Caminho dos portais do Fushimi Inari
Isso só me leva a crer que aquele seriado chamado japonês do final de1980 início de 1990 chamado Cybercops relatava uma verdade: no meio do nada, em qualquer lugar do Japão os policiais achavam um terminal, digitavam uma senha e voilá, saía uma maleta cheia de armas do chão. Depois de ver as vending machines no meio do nada eu acredito que tal sistema exista.
Pedestres, motoristas, ciclofaixas e mitos
Mito 1: todos os pedestres esperam o sinal abrir para atravessar na faixa de segurança. Mentira! É bem comum você ver os pedestres ignorarem faixa de pedestres e sinais.
Mito 2: os motoristas obedecem rigorosamente o código de trânsito. Mentira! Vi muitos motoristas, não só no interior, mas também nas grandes cidades avançarem sinal vermelho. O excesso de velocidade pelos caminhoneiros é bastante notório também. Mas se acontece algum acidente... É cadeia na certa.
Mito3: todo o japonês prefere usar transporte público. Mentira! Toda a casa, praticamente, tem um ou mais carros na garagem. E quando não tem garagem, eles dão um jeito de arrumar uma (Vai que essa moda pega no Brasil)!
Garagem Improvisada no Interior do Japão
Mesmo nas grandes cidades. Em Tóquio ou Yokohama, a capilaridade do metrô é absurda. Mas mesmo assim todos tem carro por lá. Outra coisa importante de se dizer é que, no interior, não tem capilaridade de transporte público não. Todos tem carro ou scooter. Não vi um ônibus sequer passar na rua no interior. Tem um trem que leva para a cidade e só.
Os japoneses também gostam muito de andar de bicicleta. Mas não é um número absurdo de pessoas que andam de bicicleta não. Mais do que os brasileiros, com certeza. É bem comum ver pais levando filhos para escola ou para passear de bicicleta. Mas não vi ciclofaixas por lá. É bem comum as calçadas serem bem grandes. Tem os locais delas destinados a pedestres e a ciclistas. Onde não tem, as pessoas transitam de bicicleta na rua e todos respeitam. Inclusive, ciclista lá não é super-cidadão. Fez barbeiragem de bicicleta na rua, toma bronca do guardinha ou mesmo dos motoristas.
É isso.