segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Visto por último

Ultimamente a tecnologia nos propicia facilidades bem egoístas. No aplicativo Whatsapp, de mensagens de texto de telefone celular enviadas pela internet existe o recurso chamado "Visto por último" que mostra quando o usuário que recebe as suas mensagens esteve "online" (abriu o aplicativo pela última vez). 



Muitas pessoas desativam esta funcionalidade do aplicativo para manter a sua privacidade. Não querem que os outros saibam quando olharam ou não as suas mensagens. De fato, todos ficamos ansiosos para saber se quem recebeu a nossa mensagem esteve ou não "online" para a responder. 
Este ano, entretanto, percebi que esta funcionalidade "dedo-duro" pode ser usada para outra coisa: registrar o último momento que uma pessoa, em vida, olhou para as suas mensagens no celular.
Na primeira semana deste ano, recebi a notícia de que um colega de trabalho de um de meus clientes havia falecido em um acidente de moto no dia 28/12/2014. Fiquei chocado! Como não convivia com ele, era como se tivesse conversado sobre trabalho com ele no dia anterior. Ao chegar em casa, abri o Whataspp e vi o que não queria ver. "visto em 28/12/14 12:02". 



A informação corroborava com o que me contaram. Fiquei pensando durante muito tempo sobre aquela data e aquele horário. 

  • Será que foi a última vez que ele falou com a mãe ou pai dele?
  • Será que foi a última vez que ele falou com a namorada dele?
  • Será que foi a última vez que ele deu alguma risada com algum grupo de amigos?
  • Será que ele olhou as mensagens do celular enquanto guiava e por isso sofreu o acidente? De verdade; esta, eu espero que não.

Nos dias seguintes ainda olhava as conversas entre eu e o falecido colega. No fim das contas, tinha a vã esperança de que ele apareça no chat e converse comigo, mostrando que foi tudo um engano. Passei a olhar com outros olhos a funcionalidade "Visto por último". Agora acredito que tenho um motivo real para ficar ansioso quando não sei mais a última vez em que uma pessoa viu as mensagens.
Comecei a realizar mais telefonemas.

Adeus, A.

É isso.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Impressões sobre o Japão - Parte II

Dando continuidade ao post anterior, continuarei sobre discorrendo sobre algumas impressões sobre o Japão durante o curto período em que estive lá. Alguns podem ser bem polêmicos.


Pudor

O pudor do japonês é diferente do brasileiro. Já vi isso em alguns documentários que passaram na TV Cultura aqui no Brasil. Por uma série de fatores, incluindo o religioso. A influência católica no Brasil afetou em muito nosso senso de pudor. Todavia, não é meu intuito discutir sobre o pudor do meu país. Vou fazer apenas algumas observações pontuais. Observe o banheiro masculino do shinkansen (trem-bala).
Banheiro Masculino de Xixi do Shinkansen

É um banheiro público e fica no meio do corredor comum do trem, dedicado exclusivamente ao público masculino para fazer xixi. Já repararam na janela do banheiro? Ela não fecha! Isso mesmo. Você sabe se o banheiro está ocupado ou não só de olhar. Mais do que isso: você sabe quem está usando e como a pessoa está usando. Se abaixou ou não a calça. Se lavou ou não as mãos. Privacidade zero. Não consigo imaginar um banheiro assim sendo aceito na boa no Brasil ou mesmo nos EUA. "Ah, você está exagerando!". Se fosse apenas o caso isolado do banheiro do trem bala, talvez estivesse. Mas não é só lá que se encontra situações semelhantes. Por exemplo os banheiros públicos do castelo Himeji. Apenas as "casinhas" são fechadas. Existe uma janela bem grande que possibilita aos transeuntes observarem quem está no banheiro e fazendo o que no banheiro. Sim, privacidade só na casinha mesmo. Não se enganem: isso é válido tanto para os banheiros masculinos quanto para os femininos.


Cybercops

Se existe algum objeto que caracteriza o japão moderno, esse objeto é a Vending Machine ou Máquina de Vendas.
Vending Machines Genéricas


Geralmente usadas para bebidas e cigarros. Praticamente em toda a esquina tem uma. Até aí, tudo bem. Mas a presença delas é algo mais onipresente. Perambulando pelo interior do Japão era capaz de encontrar vending machines no meio de terrenos baldios e locais ermos (infelizmente não tirei fotos). Pasmem, elas funcionavam de noite também. Em meio a escuridão total se via o brilho de uma máquina de refrigerantes. Parece até coisa de filme de terror. Em Kyoto, um casal de amigos relatou que se perderam no meio da montanha, fora da trilha, no Fushimi Inari (o templo famoso dos portais vermelhos) e, no meio do mato, havia uma vending machine funcionando.
Caminho dos portais do Fushimi Inari

Isso só me leva a crer que aquele seriado chamado japonês do final de1980 início de 1990 chamado Cybercops relatava uma verdade: no meio do nada, em qualquer lugar do Japão os policiais achavam um terminal, digitavam uma senha e voilá, saía uma maleta cheia de armas do chão. Depois de ver as vending machines no meio do nada eu acredito que tal sistema exista.


Pedestres, motoristas, ciclofaixas e mitos

Mito 1: todos os pedestres esperam o sinal abrir para atravessar na faixa de segurança. Mentira! É bem comum você ver os pedestres ignorarem faixa de pedestres e sinais.
Mito 2: os motoristas obedecem rigorosamente o código de trânsito. Mentira! Vi muitos motoristas, não só no interior, mas também nas grandes cidades avançarem sinal vermelho. O excesso de velocidade pelos caminhoneiros é bastante notório também. Mas se acontece algum acidente... É cadeia na certa.
Mito3: todo o japonês prefere usar transporte público. Mentira! Toda a casa, praticamente, tem um ou mais carros na garagem. E quando não tem garagem, eles dão um jeito de arrumar uma (Vai que essa moda pega no Brasil)!


Garagem Improvisada no Interior do Japão

Mesmo nas grandes cidades. Em Tóquio ou Yokohama, a capilaridade do metrô é absurda. Mas mesmo assim todos tem carro por lá. Outra coisa importante de se dizer é que, no interior, não tem capilaridade de transporte público não. Todos tem carro ou scooter. Não vi um ônibus sequer passar na rua no interior. Tem um trem que leva para a cidade e só.
Os japoneses também gostam muito de andar de bicicleta. Mas não é um número absurdo de pessoas que andam de bicicleta não. Mais do que os brasileiros, com certeza. É bem comum ver pais levando filhos para escola ou para passear de bicicleta. Mas não vi ciclofaixas por lá. É bem comum as calçadas serem bem grandes. Tem os locais delas destinados a pedestres e a ciclistas. Onde não tem, as pessoas transitam de bicicleta na rua e todos respeitam. Inclusive, ciclista lá não é super-cidadão. Fez barbeiragem de bicicleta na rua, toma bronca do guardinha ou mesmo dos motoristas.

É isso.